Como divulgar um livro nas redes sociais e alcançar leitores
Divulgar de forma eficiente é fundamental para que um livro não vire apenas objeto de decoração em estantes de parentes e amigos
Escrevi meu livro ao longo de dois anos, investi numa leitura crítica que durou mais alguns meses, consegui uma editora, passei por uma campanha de pré-lançamento e me tornei um escritor publicado. Depois disso tudo, hora de descansar e pensar no próximo livro.
Essa foi minha sequência de pensamentos quando lancei o romance Dos que vão morrer, aos mortos, publicado há um ano e meio pela Editora Urutau. Não demorou e eu percebi: se eu falo do meu livro, vendo. Se deixo o romance de lado por uns tempos para cuidar de outras atividades, empaco.
Eu escrevi por prazer e por necessidade, afinal isso é o que amo fazer, mas também porque quero ser lido. Não é de hoje que existe, na literatura, um certo julgamento com escritores e escritoras que tentam se vender, vamos dizer assim. Há quem diga que o trabalho de quem vive da literatura deve ser apenas a arte, deixando a divulgação com as editoras. Permitindo, como se isso fosse possível, que a qualidade da literatura fale por si só.
Um dia quero estar numa editora que coloque meu livro em todas as principais livrarias do país; óbvio que sonho com uma carreira literária com centenas de milhares de exemplares vendidos — número que ninguém jamais conseguirá sem ajuda de muitas mãos. Enquanto esse dia não chega, estou muito satisfeito com o que conseguimos, eu e a Urutau, até aqui: como já contei em outra carta, bati os mil exemplares físicos. A próxima remessa, com mais cem exemplares, chegará aqui em casa em breve. Quando eu vendo o livro diretamente, recebo 50% do valor de capa, não os 10% de uma venda em livraria.
Já contei que alcancei esse número com divulgação, principalmente nas redes sociais. Ao ler comentários aqui e ali, percebi que muita gente talentosa e criativa não faz ideia de como divulgar o próprio trabalho.
Então vamos de dicas práticas? Antes, vou deixar claro: tudo que falarei funcionou para mim. Apesar disso, sei que meu livro está muito, mas muito longe de ser um best seller. Tenho conseguido uma composição de renda interessante com a literatura, mas ainda não vivo só disso. Portanto, esses são conselhos para quem está no mesmo ponto de carreira que eu. Estamos começando.
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Conte a história do seu livro nas redes sociais
Você escreveu um livro sobre depressão, um tema duro e impactante, mas não vendeu nem vinte exemplares. Você até está divulgando nas redes, mas ninguém se interessa. Por quê?
Eu tenho um palpite: você está divulgando errado. Não adianta só falar: oi, esse é meu livro, é um romance sobre depressão. Compre, compre, me ajude. Só seus amigos e familiares mais próximos vão comprar um livro divulgado dessa forma. Faça uma conta rápida: quantas pessoas você conhece que gostam de ler? Que leram um livro neste ano? Se você depender só dos amigos e parentes, venderá pouco e quase não será lido. Parabéns, seu livro virou uma peça de decoração familiar.
Qual a história do seu livro? O que a trama tem de inquietante? O que os personagens passaram? Você precisa contar a história do seu livro nas redes sociais; precisa prender o leitor num tweet, numa nota, num vídeo de Instagram. Só assim você vai sair da bolha familiar.
Foi isso que eu fiz. Durante o pré-lançamento, postei o fio abaixo no Twitter. Note que eu não falei do livro de cara, mas contei a história dele. A cada tweet, eu acrescentava novas informações, tentando gerar curiosidade e empatia. Assim como eu fiz na escrita do livro, o fio era uma história com começo, meio e fim e que eu fui postando aos poucos.
Resultado: um milhão e meio de pessoas alcançadas e o recorde de maior pré-venda da editora Urutau.
Um bom livro conta uma boa história. Para vender um livro nas redes sociais, você precisa contar uma boa história dentro daquela plataforma.
O número de seguidores não importa tanto
Eu tinha menos de 500 seguidores quando postei esse fio no Twitter. Além disso, eu não publicava nada lá — usava o Twitter só como fonte de leitura, não se interação.
Depois do primeiro fio bem sucedido, adotei a mesma estratégia outras vezes, sempre gerando viralizações. O fio abaixo bateu 1.7 milhões de views e vendeu mais de uma centena de livros.
Já o fio que falou do incêndio causado pelo Carlos Drummond de Andrade alcançou quase 600 mil pessoas e lotou três grupos da minha caminhada literária por Belo Horizonte. Essa é uma experiência paga sobre literatura e que custa R$80 por pessoa. Sabe o que eu vendo no final da caminhada? Meu livro.
Separei esses três virais, com certeza os mais relevantes, mas consegui efeitos parecidos outras vezes. Hoje, tenho três mil seguidores no Twitter. Você não precisa de uma rede social enorme. Você só precisa contar sua história de forma correta para aquela plataforma.
Para o Twitter, eu sempre posto quatro ou cinco pedaços do fio e deixo lá. Vou tomar um café, trabalhar, cuidar da vida. Horas depois, escrevo mais cinco e respondo os comentários que chegaram. No dia seguinte, outros cinco. O viral acontece aos poucos e à medida que aquele fio volta para o feed das pessoas.
O exemplo do Substack
Eu já contei que trabalho com escrita para internet desde o 360meridianos, um blog de jornalismo de viagem. Por isso, escrevo newsletters há anos: começamos no Mailchimp, migramos para a ferramenta da Amazon e há dois anos o 360 está aqui.
Se você entrar no meu perfil, verá que eu tenho 18 mil assinantes. Só que desses, 17.400 não são meus, são do 360meridianos, uma base que não cresceu aqui: foi cultivada por quase uma década, capturando os emails de todo mundo que entrava no site.
Eu vendi alguns livros na newsletter do 360, claro, mas só para leitores antigos e que me acompanham há muito tempo. Gente que gosta do meu estilo de escrita. A maioria esmagadora desses assinantes se interessa por viagem, não por literatura, por isso a conversão lá não é tão boa assim.
Pensando nisso, em março criei minha newsletter literária. Alcancei os primeiros cem assinantes em abril. No dia 20 de maio resolvi estudar a plataforma e comecei a publicar todos os dias no notes: resultado: em 30 dias, passei de 140 assinantes para 600.
Mas tem uma coisa melhor ainda. Semana passada vendi dez livros por aqui, a maioria para pessoas que não me seguem e não assinam minhas cartas. Fiz isso ao contar a mesma história que já tinha feito sucesso no Twitter, como mostra a nota abaixo.
O notes tem um potencial enorme e dá resultados mesmo para quem não tem nenhum seguidor, só que leva tempo. Conte histórias lá e aguarde. Vai dar certo.
Lembra aquele causo do Drummond incendiário? Contei também no notes, e essa história já trouxe 131 assinantes para minha newsletter literária.
E o Instagram?
Também consegui bons resultados com o Instagram. Vídeos com uma pegada mais literária — como a BH do Menino Maluquinho, do Drummond e da Hilda Furacão — tiveram centenas de milhares de visualizações. Com isso, em pouco tempo o Instagram do BH a Pé alcançou 10 mil seguidores. Os vídeos deixam nossas experiências literárias quase sempre lotadas e com fila de espera. Sabe o que eu vendo lá, no final do passeio? Livros.
Eu sei que essa estratégia não é replicável, mas há aprendizados possíveis aí. Você pode vender oficinas. Leitura crítica. Um clube do livro. Há muitas formas de viver da literatura e a venda de livros é só uma delas.
Também consegui vender livros ao contar a história do meu romance em forma de vídeo. Fiz isso no meu Instagram pessoal, que tem cerca de 5 mil seguidores.
Como expliquei em outra carta, eu adoto uma estratégia de vendas mais direta e que copiei da Aline Bei, escritora talentosa e que é um tremendo sucesso. Se uma pessoa começa a me seguir, eu mando uma mensagem oferecendo meu livro, assim como ela fez comigo. Funciona.
Hoje editada pela Companhia das Letras, a Aline não precisa mais fazer isso. Mas foi assim, sem vergonha de divulgar o próprio trabalho, que ela chegou tão longe.
Não dá tempo de fazer tudo (e está tudo bem)
Se eu me dedico ao Substack, deixo de fazer vídeos para o Instagram; se cresço lá, o Twitter fica de lado. Não há tempo para fazer tudo. É preciso ter organização, foco e paciência. Vai dar certo, mas é aos pouquinhos, um avanço de cada vez e vários retrocessos pelo caminho.
Eu não tenho Tik-Tok. Acho que conseguirei vender livros lá, mas não deu tempo (ainda).
Então a solução é o escritor-influenciador?
Li esse argumento um dia desses — em tom de lamento e como se a culpa por essa situação fosse do mercado literário em si e das editoras que não ajudam.
Eu trabalho para a internet há 15 anos. Paguei minhas contas com um blog de viagem e também ao escrever spam para uma empresa indiana (um dia conto essa história, juro); fui repórter do G1 e ajudei a criar um perfil de Instagram com dicas de gastronomia. Há dez anos, num evento no Terraço Itália, vi uma palestrante chamar os presentes, que eram blogueiros de viagem, de influenciadores. Quase todos se ofenderam, para surpresa dela, que por pouco não foi vaiada. Desde então, o termo influenciador se popularizou, mas muita gente ainda o encara como ofensa.
Apesar da minha presença online, quando o assunto é literatura eu não me considero um influenciador. Eu escrevo, ponto. Faço isso em todas as plataformas e formatos que estiverem disponíveis. Sou um escritor e a divulgação faz parte da minha carreira.
Em 2025, quem escreve precisa levar a literatura também para as redes sociais. Isso vale até para a Carla Madeira e para o Valter Hugo Mãe, mas é muito mais importante para quem está começando.
Como você pode me ajudar a continuar escrevendo
Agradeço a cada assinante gratuito, de verdade, mas não custa lembrar os benefícios da newsletter paga:
Assinantes pagos (plano mensal ou anual) recebem edições exclusivas da carta. Além disso, a partir de agora você tem R$20 de desconto nos passeios do BH a Pé. Por exemplo, a Almas de Minas custa R$119 (com comida e bebida). Para assinantes dessa carta o passeio sai por R$99.
Mecenas literário (R$ 299 por ano): você recebe meu livro físico na sua casa, em qualquer lugar do Brasil. Também tem direito a participar de uma experiência do BH a Pé sem custo adicional. Para quem não é assinante pagante, o livro com frete custa R$70; as experiências do BH a Pé custam entre R$99 e R$219. Ou seja, você recebe o valor investido na newsletter de volta.
A ideia é que assinantes pagantes tenham também um clube do livro que vai abordar temas que fazem parte das minhas pesquisas, como literatura urbana, cidade personagem, Minas Gerais e luto. Os encontros serão mensais e online. Isso vai acontecer assim que atingirmos 15 assinantes pagantes (de qualquer plano). Quer participar? Migre de plano.
Sobre o autor: Sou escritor e jornalista de viagem. Publiquei o romance “Dos que vão morrer, aos mortos”. Também participei das coletâneas Micros-Uai, Micros-Beagá, Crônicas da Quarentena e Encontros. Siga-me no Instagram: rafaelsettecamara.
Obrigada pelas dicas!
Que bom ler um texto que muda nossa opinião. Sempre tive um pouco de resistência para esse negócio de escritor-influenciador, mas isso faz total sentido quando falamos da necessidade de divulgação. Ótimo texto, obrigada pelas dicas!